A importância da inclusão escolar para alunos atípicos/neurodivergentes

Antes de tudo, vamos entender o que significa ser uma pessoa típica, atípica e o que é neurodivergente.

Atualmente, na saúde mental, várias nomenclaturas são utilizadas para descrever pessoas que têm características que estão fora do esperado para àqueles com idade, sexo e escolaridade semelhante. Na internet é comum ouvir ou ler artigos falando das mais comuns hoje em dia: típico, atípico e neurodivergente. Apesar de eu ter algumas ressalvas quanto ao uso dessas terminologias, elas são bastante importantes para a compreensão da situação do paciente e dar um direcionamento do que esperar de suas possíveis dificuldades.

Pessoas típicas são aquelas que se enquadram dentro dos padrões considerados normais pela sociedade em termos de comportamento, habilidades e desenvolvimento cognitivo. Elas geralmente não apresentam variações significativas em relação à maioria da população em suas características.

Por outro lado, pessoas atípicas são aquelas que desviam dos padrões considerados normais, podendo apresentar diferenças significativas em seu comportamento, habilidades ou desenvolvimento cognitivo em comparação com a maioria da população.

Neurodivergente é um termo que engloba pessoas cujas características neurológicas diferem das consideradas típicas pela sociedade. Isso pode incluir pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outros. Ser neurodivergente não é uma desordem ou deficiência, mas sim uma variação natural da diversidade humana.

Então, tanto neurodivergente quanto atípico são termos para referir a pessoas que possuem algum grau de comprometimento em suas funções executivas e, necessariamente, deve prejudicar aspectos de seu cotidiano, englobando desde transtornos mais comuns como TDAH até outros mais severos como Autismo, Paralisia Cerebral e Síndrome de Down. Aqui abordaremos, em especial, a importância da inclusão de pessoas com transtornos que apresentam maior grau de comprometimento em suas funções, como, por exemplo, o Autismo e a Deficiência Intelectual.

 

O contexto histórico da Inclusão Escolar

No século XX era comum alunos das redes de ensino serem separados conforme aptidão, essa metodologia adotada buscava, principalmente, distinguir àqueles que conseguiam acompanhar o ritmo da sala de aula dos demais que possuíam alguma dificuldade, criando salas especificas para os considerados “problemáticos” ou “deficientes” em matéria de aprendizagem.

Com o passar dos anos, as escolas e classes de educação especial expandiram passaram a dificultar o acesso ao ensino regular dos alunos com Paralisia Cerebral, Síndrome de Down, Autismo e outros transtornos que pudessem afetar sua capacidade de interação e percepção.

Essa discriminação resultou em uma qualidade de ensino extremamente baixa para os alunados considerados “deficientes”, não tendo por objetivo o desenvolvimento de habilidades sociais, suas potencialidades e mitigação de dificuldades, fazendo da sala de aula apenas um local onde os pais poderiam deixar seus filhos para cumprir horário ficando preso em um ano escolar que ele só iria sair quando os pais optassem por retirar após completar de 18 anos.

Dentre as principais dificuldades apresentadas nas salas de ensino especial do século XX estavam a dificuldade de padronizar um ensino devido a alta variedade de dificuldades, necessidades específicas de cada transtorno e a necessidade de elaboração de um plano de acompanhamento individualizado.

Então, considerando a falência dessa metodologia em educar e ensinar os atípicos para as demandas sociais e, por consequência, fomentar a sua independência, no inicio dos anos 2000, as escolas públicas e particulares passaram a ter a obrigação de aceitar alunos com necessidades especiais dentro de salas regulares. Bastante questionada à época e até nos dias atuais, pelo receio de piora do ensino dos alunos típicos, essa nova diretriz de ensino buscou dar aos alunos especiais a oportunidade de se desenvolver e aprender com seus pares por observação e uma experiência de convívio social única que não era possível oferecer em salas especiais.

Assim, essa nova forma de enxergar o ensino e incluir os alunos anteriormente excluídos buscou ir além das disciplinas letivas comuns e obrigatórias, pois passou a priorizar a interação social, o respeito às diferenças e a formação de um cidadão apto para conviver em sociedade como premissas fundamentais.

Mas qual a real função da inclusão dos neurodivergentes (ou atípicos) nas escolas regulares de ensino? É o que veremos a seguir!

 

Desenvolvimento Geral

Que os seres humanos aprendem por imitação, todos já sabemos. Foi assim que aprendemos a falar e até mesmo escrever. Crianças e adolescentes tendem a observar e imitar atitudes de seus pares da mesma faixa etária. E é por isso que seu filho mais novo parece mais esperto e desenvolveu mais rápido que o mais velho, pois com a observação do irmão maior ele conseguiu adquirir mais facilmente as suas habilidades e não necessariamente será o mais novo intelectualmente superior, ele apenas teve alguém a quem se espelhar.

Isso também vale para os alunos neurodivergentes, nas escolas especiais existe um desenvolvimento neuromotor mais demorado, pois a maioria apresenta dificuldades gigantes nas mesmas áreas, o acompanhamento é muito individualizado e acaba reduzindo as atividades grupais e a imitação (ou espelhamento) de uma criança/adolescente para um adulto não é suficiente para alcançar bons resultados de forma rápida.

Nesse contexto é importante ressaltar que as intervenções para ganho e desenvolvimento de habilidades devem ser iniciadas da forma mais rápida possível, pois com o avanço da idade e o envelhecimento cognitivo o ganho de habilidades novas fica muito mais difícil e, em alguns casos, impossível de alcançar. Então, quanto mais rápida e eficiente for a intervenção melhor será o prognóstico para a criança e o adolescente.

Assim, a inclusão dessas crianças e adolescentes em salas típicas com acompanhamento especializado e com a observação de alunos que já conseguiram o desenvolvimento necessário das habilidades que ele está trabalhando, pode ser um diferencial que trará grande impacto no resto de sua vida.

 

Interação Social

A inclusão de pessoas atípicas no ensino regular desempenha um papel crucial no desenvolvimento de suas habilidades sociais. Ao interagirem com colegas típicos em um ambiente inclusivo, essas pessoas têm a oportunidade de praticar e aprimorar suas habilidades de comunicação, colaboração e resolução de problemas. Essas interações promovem um ambiente de aprendizado enriquecido, onde todos os alunos podem se beneficiar da diversidade de perspectivas e experiências.

Além disso, a inclusão no ensino regular oferece às pessoas atípicas a chance de desenvolver autoconfiança e autoestima, ao se sentirem valorizadas e aceitas em um ambiente escolar inclusivo. Isso contribui para uma maior integração social e uma sensação de pertencimento, elementos essenciais para o desenvolvimento saudável e equilibrado de qualquer indivíduo.

A inclusão no ensino regular prepara pessoas atípicas para uma vida adulta mais independente e inclusiva, ao proporcionar-lhes as habilidades sociais e emocionais necessárias para enfrentar os desafios do mundo real. Ao criar uma sociedade mais inclusiva desde a infância, estamos construindo um futuro mais justo e igualitário para todos os cidadãos.

 

Conclusão

A inclusão de pessoas neurodivergentes no ensino regular é fundamental para promover o desenvolvimento global desses alunos. Ao interagirem em um ambiente inclusivo, eles têm a oportunidade de aprimorar suas habilidades sociais, emocionais e cognitivas, além de fortalecerem sua autoconfiança e autoestima.

É importante ressaltar que a presença de alunos neurodivergentes não prejudica o ambiente da sala de aula. Pelo contrário, ela enriquece a experiência educacional de todos os alunos, proporcionando uma diversidade de perspectivas e experiências que contribuem para um aprendizado mais significativo e inclusivo. Além disso, a presença de profissionais especializados oferece suporte individualizado, garantindo que cada aluno receba a atenção necessária para seu desenvolvimento.

Portanto, a inclusão escolar não apenas beneficia os alunos neurodivergentes, mas também fortalece a comunidade escolar como um todo, preparando os jovens para uma sociedade mais diversificada e inclusiva.

 

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