A síndrome que faz a pessoa ignorar o lado esquerdo do corpo: saiba mais sobre a Heminegligência e seus desafios

A Heminegligência é um distúrbio neurológico intrigante que afeta a percepção espacial e a atenção de uma pessoa em relação a um lado específico do seu corpo ou ambiente. Causada principalmente por acidente vascular encefálico (AVE) no hemisfério direito, essa síndrome possui uma característica bem peculiar onde, apesar dos órgãos e funções do lado esquerdo estarem funcionais, a pessoa afetada tende a “ignorar” ou “negligenciar” as partes do corpo e também a não perceber movimentações ou objetos que estejam em seu campo visual esquerdo.

É comum ver pacientes com machucados causados por quedas e esbarrões e, apesar de sua sensibilidade tátil normalmente não estar reduzida, o que faz com que o paciente sinta dor, outras pessoas acreditam pelos acidentes recorrentes que a sensibilidade a dor esteja inibida.

A Heminegligência é frequentemente associada a danos cerebrais, especialmente em áreas como o córtex parietal, o lobo frontal ou o lobo temporal. As principais causas incluem:

  • Acidente vascular cerebral (AVC), tanto isquêmico quanto hemorrágico.
  • Traumatismo cranioencefálico, como lesões decorrentes de acidentes automobilísticos ou quedas.
  • Tumores cerebrais que afetam as regiões responsáveis pela percepção espacial e atenção.

PRINCIPAIS SINTOMAS

Os sintomas da heminegligência podem variar em gravidade e incluem:

– Ignorar completamente objetos ou pessoas no lado afetado do corpo ou ambiente.

– Falta de consciência sobre metade do corpo, muitas vezes acompanhada por comportamentos de negligência ao se vestir, comer ou cuidar de si mesmo.

– Dificuldade em realizar atividades que envolvem o lado negligenciado, como alcançar objetos ou ler em um jornal.

 

DIAGNÓSTICO E INSTRUMENTOS UTILIZADOS

O diagnóstico preciso da heminegligência requer uma avaliação completa por profissionais de saúde especializados, como neurologistas, neuropsicólogos ou terapeutas ocupacionais.

Dentre os instrumentos e exames utilizados para realizar o diagnóstico estão:

– Exames neurológicos para avaliar a função cerebral e identificar possíveis áreas de lesão;

– Testes de percepção espacial que podem envolver tarefas como desenhar ou apontar para objetos em diferentes partes do campo visual, sendo os mais comuns: 

  • Teste de cancelamento: onde o paciente é solicitado a cancelar certos itens em uma folha de papel, destacando a capacidade de atenção e detecção de estímulos no lado negligenciado.
  • Teste de linha: uma tarefa em que o paciente é solicitado a desenhar uma linha central em um papel, demonstrando sua capacidade de perceber e representar o espaço.
  • Teste do Relógio: este é o mais emblemático, o paciente é convidado a preencher um círculo com os números para formar um relógio de ponteiro, pacientes com heminegligência tendem a concentrar os números apenas do lado direito da figura.

– Avaliação da capacidade funcional diária, observando como o paciente lida com atividades cotidianas.

Relógio feito por um paciente diagnosticado com heminegligência.

TRATAMENTO

O tratamento da heminegligência pode ser desafiador, pois envolve uma abordagem multidisciplinar e cuidadosamente adaptada às necessidades individuais de cada paciente. Profissionais de saúde especializados, como neurologistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, neuropsicólogos e fonoaudiólogos, desempenham papéis essenciais no processo de tratamento.

A terapia ocupacional desempenha um papel central, ajudando os pacientes a aprender estratégias para aumentar a consciência do lado negligenciado e melhorar a independência funcional nas atividades diárias.

Além disso, a estimulação sensorial direcionada é frequentemente empregada, utilizando uma variedade de técnicas projetadas para aumentar a percepção do lado afetado por meio de estímulos visuais, táteis e auditivos. Essa abordagem visa reforçar as conexões neurais e promover a adaptação do cérebro às mudanças causadas pela lesão.

Programas de reabilitação neuropsicológica também desempenham um papel importante, oferecendo treinamento cognitivo para melhorar a atenção, memória e resolução de problemas. Esses programas são projetados sob medida para as necessidades específicas de cada paciente, visando promover a máxima recuperação funcional.

Durante o processo de tratamento, os profissionais de saúde monitoram de perto o progresso do paciente e ajustam as estratégias terapêuticas conforme necessário. A colaboração entre a equipe multidisciplinar e o paciente e seus familiares é fundamental para garantir o sucesso do tratamento.

Embora a recuperação completa da heminegligência possa ser desafiadora e varie de pessoa para pessoa, a intervenção precoce e o comprometimento com a terapia podem levar a melhorias significativas na qualidade de vida do paciente.

CONCLUSÃO

Ainda nos dias atuais, a heminegligência desafia pesquisadores e profissionais de saúde no acompanhamento e tratamento de seus pacientes. Embora tenham sido feitos avanços significativos na compreensão e na abordagem terapêutica da heminegligência, sua natureza complexa e variabilidade individual continuam a apresentar desafios.

Dentre as dificuldades, as intervenções fragmentadas feitas por profissionais de saúde podem tornar-se repetitivas e não alcançar os resultados esperados. Considerando que a heminegligência afeta, em sua maioria, a população idosa, cuja neuroplasticidade já não é tão alta quanto a das crianças, uma intervenção imediata e articulada entre os profissionais de saúde pode ser fundamental para a melhoria do quadro clínico. Isso evitaria a repetição de atividades e permitiria a determinação das funções específicas de cada profissional no trabalho interventivo, garantindo uma abordagem mais eficaz e direcionada às necessidades individuais de cada paciente.

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