Amnésia retrógrada e anterógrada: compreendendo os diferentes tipos de perda de memória

A memória é uma função cognitiva complexa e essencial para a construção da identidade, da aprendizagem e da continuidade da vida cotidiana. Quando há algum comprometimento nessa função, como ocorre nas amnésias, os impactos podem ser profundos. Dentre os principais tipos de amnésia, destacam-se a retrógrada e a anterógrada, cada uma com suas características distintas e implicações clínicas.

 

Amnésia retrógrada: quando o passado se apaga

Na amnésia retrógrada, o indivíduo perde a capacidade de recordar eventos que ocorreram antes da instalação do quadro neurológico ou psiquiátrico causador da condição. Em outras palavras, há uma falha na evocação de memórias previamente armazenadas. A extensão dessa perda pode variar, afetando desde acontecimentos recentes até lembranças mais remotas. Esse tipo de amnésia é comum após traumas cranianos, encefalites, episódios de epilepsia ou em contextos de demência. Um aspecto importante é que, muitas vezes, as memórias mais antigas são preservadas, enquanto as mais recentes tendem a ser mais vulneráveis.

 

Amnésia anterógrada: a dificuldade de formar novas memórias

Já na amnésia anterógrada, o prejuízo está na capacidade de consolidar novas informações após o evento que causou a lesão ou disfunção cerebral. O indivíduo mantém lembranças anteriores ao episódio, mas tem grande dificuldade em fixar novos acontecimentos em sua memória de longo prazo. Isso ocorre com frequência em lesões do hipocampo, como nos casos clássicos de encefalopatia anóxica, abuso crônico de álcool (como na síndrome de Korsakoff) ou após cirurgias neurológicas. Mesmo com a integridade da atenção e da linguagem, a pessoa pode se comportar como se cada novo momento fosse o primeiro, repetindo perguntas ou perdendo-se em ambientes familiares.

 

Implicações clínicas e impacto na vida diária

Ambas as formas de amnésia podem causar grande sofrimento e prejuízo funcional, tanto para o indivíduo quanto para seus familiares. É importante ressaltar que a memória não é um processo único, mas envolve diferentes sistemas (explícita, implícita, episódica, semântica, etc.), o que significa que nem todas as formas de recordação são afetadas igualmente. Em alguns casos, a memória procedural — relacionada a habilidades automáticas, como andar de bicicleta — permanece preservada, mesmo em pacientes com graves déficits de memória declarativa.

A avaliação neuropsicológica é essencial para caracterizar o tipo e a extensão da amnésia, oferecendo subsídios para um plano terapêutico que envolva tanto a reabilitação cognitiva quanto estratégias compensatórias. O suporte familiar, o uso de agendas, lembretes visuais e outras ferramentas externas pode fazer grande diferença no cotidiano de pessoas com esse tipo de comprometimento.

Compreender os diferentes tipos de amnésia não é apenas um exercício técnico, mas um passo importante para humanizar o cuidado e fortalecer a empatia diante de indivíduos que vivem a experiência desafiadora de perder partes da própria história ou da capacidade de construir novas memórias.

 

 

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