O Projeto de Lei 551/2024: Um Retrocesso na Política de Saúde Mental Brasileira

O Projeto de Lei 551/2024, em tramitação na Câmara dos Deputados, propõe mudanças significativas na Lei Antimanicomial (Lei nº 10.216/2001), sendo criticado por diversos especialistas e instituições como um retrocesso nos direitos das pessoas com transtornos mentais.

O PL visa, entre outras alterações, permitir a internação compulsória preventiva ou definitiva em hospitais psiquiátricos ou instituições congêneres para indivíduos com transtornos mentais considerados perigosos, vinculando a liberação à avaliação médica sobre sua “periculosidade” e capacidade de reintegração social.

 

Por que o PL é considerado um retrocesso?

1. Ruptura com a Luta Antimanicomial: A proposta contraria os princípios da Reforma Psiquiátrica brasileira, que promoveu o cuidado em liberdade como modelo assistencial. Ao retomar a centralidade dos hospitais psiquiátricos e da internação compulsória, o PL reforça estigmas e discriminação contra pessoas em sofrimento mental.

2. Impacto na Dignidade e Direitos Humanos: Ao condicionar o término da internação a critérios médicos de “periculosidade”, o PL ignora a dignidade e autonomia das pessoas com transtornos mentais, perpetuando a ideia de que são uma ameaça ao convívio social.

3. Precarização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): A política atual de atenção à saúde mental é estruturada em uma rede de cuidado que prioriza a inclusão social e o tratamento comunitário. O retorno à lógica manicomial enfraquece essas conquistas, desconsiderando os avanços no tratamento humanizado e integrado.

4. Possíveis Abusos: A ampliação das condições para internações compulsórias pode abrir margem para abusos, como o uso inadequado da medida para grupos vulneráveis, colocando em risco a proteção de direitos fundamentais.

 

Repercussão

Instituições como o Conselho Federal de Psicologia (CFP), Conselho Regional de Serviço Social da Bahia (CRESS-BA) e o Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) se manifestaram contra o PL, argumentando que ele representa uma grave ameaça ao modelo civilizatório da reforma psiquiátrica. Defensores da luta antimanicomial destacam que o tratamento comunitário e em liberdade, aliado a equipes multidisciplinares, é o caminho para garantir direitos e efetividade no cuidado à saúde mental.

 

Conclusão

O PL 551/2024 desafia décadas de progresso na saúde mental no Brasil, propondo medidas que colocam em risco conquistas históricas em direitos humanos. A manutenção da política de atenção psicossocial baseada no cuidado em liberdade e na reintegração social deve ser prioridade para evitar retrocessos que prejudiquem tanto os indivíduos em sofrimento mental quanto a sociedade como um todo.

 

Autor

  • Alex Duarte

    Com formação em Psicologia pela Faculdade Ciências da Vida e Especialização em Neuropsicologia pela PUC Minas, possuo uma sólida experiência abrangendo diversas áreas, como Neuropsicologia, Psicologia Clínica, Psicologia em Saúde, Psicologia Social e Saúde Mental. Complementando minha formação, obtenho especializações em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Faculdade Estácio de Sá, e em Psicologia em Saúde pelo Conselho Regional de Psicologia da 4ª Região. Minha experiência engloba o manejo de transtornos globais de desenvolvimento, transtornos de personalidade, estresse ocupacional, saúde coletiva e questões relacionadas à masculinidade e feminilidade. Com um foco claro em contribuir para o bem-estar e desenvolvimento das pessoas, busco aplicar meu conhecimento e experiência para fornecer suporte eficaz e compassivo em diferentes contextos e desafios psicológicos.

    Ver todos os posts

Compatilhe esse artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *