A tricofagia é um comportamento caracterizado pela ingestão recorrente de cabelos, geralmente retirados do próprio couro cabeludo. Esse ato compulsivo está frequentemente associado a um transtorno chamado tricotilomania, no qual a pessoa sente uma necessidade intensa de arrancar os próprios fios de cabelo. Embora menos comum do que o hábito de arrancar, a ingestão desses fios pode levar a sérias consequências médicas, exigindo atenção não apenas psicológica, mas também clínica e, por vezes, cirúrgica.
Uma manifestação silenciosa de sofrimento emocional
Geralmente, a tricofagia não surge de forma isolada. Ela está inserida em um quadro mais amplo de sofrimento emocional, ansiedade, impulsividade e, em muitos casos, transtornos obsessivo-compulsivos. Pessoas que praticam a tricofagia podem não perceber de imediato a gravidade do comportamento, que costuma ser realizado em momentos de tédio, estresse ou angústia emocional. É comum que esse hábito seja mantido em segredo, o que dificulta o diagnóstico precoce e o acompanhamento profissional.
Complicações médicas sérias
A ingestão constante de fios de cabelo pode causar a formação de tricobezoares — massas compactadas de cabelo no estômago e no intestino. Esses acúmulos podem levar a obstruções gastrointestinais, dor abdominal, náuseas, vômitos, perda de peso e, em casos extremos, perfuração intestinal. Um quadro conhecido como síndrome de Rapunzel ocorre quando o tricobezoar se estende do estômago para os intestinos, exigindo cirurgia para remoção.

Aspectos diagnósticos e tratamento
O diagnóstico da tricofagia exige uma avaliação detalhada de um profissional de saúde mental, geralmente um psicólogo ou psiquiatra. Muitas vezes, é necessário também o suporte de um gastroenterologista, especialmente quando há sinais de complicações físicas. O tratamento envolve psicoterapia — especialmente abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental —, e em alguns casos, o uso de medicação para controle da ansiedade e impulsividade. É fundamental trabalhar não só o comportamento em si, mas os fatores emocionais e psicológicos subjacentes que levam à sua manifestação.
Importância do suporte familiar e acompanhamento contínuo
Como muitos comportamentos compulsivos, a tricofagia pode causar vergonha e isolamento. Por isso, o acolhimento sem julgamento por parte da família e amigos é essencial para que a pessoa se sinta segura para buscar ajuda. Além disso, o acompanhamento contínuo com equipe multidisciplinar pode fazer toda a diferença na prevenção de recaídas e no desenvolvimento de estratégias mais saudáveis de enfrentamento emocional.
Reconhecer a tricofagia como um transtorno real, com impacto tanto na saúde física quanto mental, é o primeiro passo para romper o silêncio e buscar cuidados adequados. Quanto mais cedo for identificado, melhores são as chances de tratamento e recuperação, promovendo mais bem-estar e qualidade de vida.