A iminente execução de Robert Roberson, um homem autista de 56 anos condenado à pena de morte no Texas, reacendeu debates importantes sobre a validade do diagnóstico de “síndrome do bebê sacudido” e as implicações da condição neurodiversa do acusado. Roberson foi condenado pelo assassinato de sua filha de 2 anos, Nikki, em 2002, e o caso tem levantado questões críticas sobre a justiça do processo e a confiabilidade da ciência que sustenta a condenação.
O que é a Síndrome do Bebê Sacudido?
A “síndrome do bebê sacudido” é um diagnóstico médico associado a traumas graves ou fatais na cabeça de crianças pequenas, supostamente causados por sacudidas violentas. Sinais como sangramento subdural, inchaço cerebral e hemorragias retinianas costumam ser utilizados como evidências desse tipo de abuso. Nos anos 1990 e início dos anos 2000, esse diagnóstico ganhou popularidade e foi responsável por diversas condenações criminais.
No entanto, nas últimas décadas, a confiabilidade desse diagnóstico tem sido amplamente questionada. Estudos mais recentes indicam que os três sinais mencionados anteriormente podem não ser exclusivos de abuso infantil, podendo ocorrer em outras condições médicas ou acidentes. Esse avanço científico resultou em revisões de várias condenações anteriores, e muitos especialistas pedem cautela na aplicação do diagnóstico em casos criminais.

O Caso de Robert Roberson
Em 2002, após a morte de Nikki, exames revelaram sinais típicos da síndrome do bebê sacudido, e Roberson, que estava sozinho com a filha na época, foi acusado de homicídio. No entanto, sua defesa argumenta que Nikki sofria de uma grave infecção respiratória e febre alta nos dias anteriores à sua morte. Ela também havia caído da cama, o que pode ter contribuído para sua condição.
A autópsia determinou que Nikki morreu em decorrência de “sacudidas” e “golpes”, mas os advogados de Roberson têm apresentado novas evidências que sugerem que sua morte pode ter sido resultado de problemas médicos preexistentes, como pneumonia, e não de abuso.
Autismo e Falta de Reação Emocional
Um aspecto relevante que não foi considerado durante o julgamento é o diagnóstico de autismo de Robert Roberson. Testemunhas afirmaram que ele não demonstrou a reação emocional esperada após a morte da filha, comportamento que foi usado pela promotoria como indício de culpa. No entanto, seus advogados alegam que essa falta de resposta emocional pode ser explicada por sua condição neurodiversa. Pessoas autistas muitas vezes apresentam dificuldades em expressar emoções de maneira convencional, o que pode levar a equívocos em contextos como esse.
O detetive que inicialmente investigou o caso, Brian Wharton, que ajudou a obter a condenação de Roberson, agora acredita em sua inocência. Ele afirmou que, à época, interpretou erroneamente o comportamento de Roberson, mas que hoje entende que suas reações podem ter sido influenciadas pelo autismo.
A Importância de Atualizar a Ciência Forense
O caso de Roberson destaca a necessidade de revisar condenações baseadas em ciência forense ultrapassada. Embora a síndrome do bebê sacudido continue a ser um diagnóstico aceito em certos contextos médicos, sua aplicação em processos criminais tem sido cada vez mais contestada. Recentemente, a evolução da compreensão científica em torno do trauma craniano infantil, que agora inclui outros fatores médicos e acidentes como possíveis causas, colocou em xeque condenações anteriores.
A execução de Roberson, marcada para ocorrer em breve, foi temporariamente suspensa por uma juíza, que avaliou as novas evidências e a complexidade do caso. Grupos de defensores dos direitos humanos, especialistas forenses e até mesmo alguns políticos texanos pedem que a execução seja cancelada ou, pelo menos, adiada para que um novo julgamento possa ser realizado à luz dos avanços científicos e do diagnóstico de autismo.
Reflexões Finais
A história de Robert Roberson levanta questões importantes sobre a justiça no sistema penal americano, o impacto de condições neurodiversas em julgamentos e a validade de diagnósticos médicos controversos como a síndrome do bebê sacudido. Seu caso não apenas expõe as falhas da ciência forense da época, mas também destaca a necessidade de compaixão e compreensão em casos que envolvem indivíduos com autismo.
À medida que a ciência evolui, o sistema judiciário precisa acompanhar essas mudanças para garantir que as condenações sejam baseadas em evidências sólidas e atualizadas, evitando que injustiças como essa se repitam.
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